Igreja de Santa Justa
A igreja de Santa Justa do Couço, implantada na margem direita do rio Sorraia, não longe do local onde confluem as ribeiras da Raia e do Sor para formar o Sorraia, apresenta um amplo domínio visual sobre o vale.
A atual igreja é um templo de tipo rural alentejano, com um batistério atinente, de cobertura cupulada (SEQUEIRA, 1949), provável sucessora de um templo mais antigo.
A possibilidade de ter existido no local um santuário pagão é muito elevada, dada a inscrição presente na árula votiva ali recolhida, em mármore branco amarelado de tipo Estremoz/Vila Viçosa, possivelmente consagrada a Carneu Calanticense, divindade indígena, cujo principal centro de culto se localizava no templo de Santana do Campo, Arraiolos (MANTAS, 2006).
Para além desta inscrição existiu "um resto de parede, pegado à fachada do norte" (CORDEIRO, 1984), ilustrado em desenho de Heraldo Bento (1984), bem como um fragmento de mármore recolhido no local, com restos de uma moldura, que poderá ter pertencido a uma placa (MANTAS, 2006).
[Aceda aqui às fontes consultadas Texto: CC/2022-05-05]
A Igreja de São Mateus (Erra)
A igreja de São Mateus, igreja da antiga Misericórdia da Erra, localiza-se no centro da povoação e apresenta a data de 1691 gravada no fecho do arco do cruzeiro.
Apresenta orientação Sul/Norte e assumiu a função de sede da paróquia quando a antiga igreja matriz deixou de ser utilizada na sequência dos danos provocados pelo(s) terramoto(s). Nomeiam-se, por falta de provas contundentes, quer o terramoto de 1755 [uma vez que o Inquérito Paroquial de 1758 refere que os edifícios desta vila experimentaram alguma ruína ainda que não considerável e se têm reparado no modo possível (Ribeiro, 1959)], quer o terramoto de 11 de novembro de 1858, cujo impacto foi fortemente sentido em muitas localidades do Ribatejo.
Assim, perante o estado ruinoso da antiga matriz, de que apenas resta a torre sineira restaurada em 1766, procedeu-se, conforme Falcão (2003), à deslocação de quase todo o acervo de alfaias para o atual templo, incluindo a escultura do orago São Mateus, em madeira policroma, do segundo quartel do século XVI. Entre os objetos movidos nessa ocasião conta-se também, entre outros, a notável pia de água benta, que Gustavo de Matos Sequeira descreve, em 1949, da seguinte forma: "A pia de água benta é curiosa. Em vez de coluna, possui uma figura de quase total relevo, com os braços cruzados acima da cabeça e são eles que sustentam a taça. O povo chama a esta figura ‘Erra Velha’. Trata-se, evidentemente, de uma apropriação." Ainda, segundo Falcão (2003), a regularidade do lavor da taça, talhada numa pedra mais nobre, permite considerá-la um elemento pré-existente, datado do século XVI, como se deduz da sua estrutura, e, por certo, oriundo da matriz destruída. É deste modo provável que, ao ser transferida para a igreja da Misericórdia, tenha sido reaproveitada, encomendando-se nessa ocasião, a um artista regional, a peça que lhe serve de sustentáculo. A base parece datar também do mesmo período.
No exterior deste templo Gustavo de Matos Sequeira apenas faz menção a uma Virgem (escultura de pedra, grosseira, do século XVI) num nicho que fica sobre um janelão de coro. O interior, de uma só nave, tem o clássico coro lateral das Misericórdias, capela-mor [em cujo altar se venera a imagem de Nossa Senhora da Conceição], e dois altares laterais.
Sobre os azulejos do tipo mudéjar (século XVI), com composições de laçarias mudéjares e outros motivos geometrizantes (Correia, 2003), foram os mesmos aplicados, em jeito de painel, por cima da pia batismal para não se perderem, "pois nem são metade dos que existiam" (Brotas, 2001).
[Aceda aqui às fontes consultadas /Texto CC_2022-05-04]
Igreja de Santa Ana
A igreja de Santa Ana (Santana do Mato), construída no século XVI, começou por ser uma ermida filial da igreja de São João Batista de Coruche, vindo a tornar-se sede de uma vasta paróquia rural de habitat disperso, o que explica a sua localização algo isolada. "Segundo a tradição, Santa Ana apareceu aí, no meio dos matos, entre densos carvalhais, o que levou a que lhe dedicassem uma igreja. Nas imediações subsiste uma fonte santa, a cujas águas, muito apreciadas, são atribuídas virtudes terapêuticas, e uma presa (represa), o que parece indicar tratar-se de um local de culto antigo. Conservando bem patentes as características da arquitetura manuelina popularizada a que marcou a paisagem transtagana, este edifício tornou-se, pouco a pouco, um santuário de peregrinação com certo peso no mapa religioso da zona." (Falcão, 2003)
Tratava-se, citando José António Falcão, de um modesto edifício, "enriquecido, nos meados da centúria seguinte, por um revestimento azulejar de excecional riqueza que faz dele um verdadeiro tesouro da nossa arte cerâmica."
O belíssimo revestimento de azulejaria, que cobre grande parte das paredes da nave e da capela-mor, foi encomendado em meados do século XVII a uma oficina de Lisboa. São de relevar os "diversos tipos de padrões policromos de tapete, enquadrados pelas cercaduras e filetes da regra, com extensos frisos de azulejos de figura avulsa", combinados aleatoriamente pelos ladrilhadores.
"O retábulo do antigo altar colateral, da parte do Evangelho, é constituído por um soberbo painel policromo que representa a Santíssima Trindade, enquanto o retábulo da capela-mor é ladeado por dois painéis mais reduzidos, ao modo de registos devocionais, que se integram no revestimento de tapete, figurando São Miguel e São Pedro, santos assaz gratos à piedade das gentes de Coruche.” (Falcão, 2003)
No adro, defronte da mesma, localiza-se um cruzeiro seiscentista.
[Aceda aqui às fontes consultadas Texto: CC/2022-05-10]
Igreja de São Pedro
Ainda que se desconheça a data da sua construção, sabe-se que a Igreja de São Pedro já existia em 1222, documentada pela venda de uns moinhos existentes no Carvalhal, venda efetuada pelo prior da igreja de São Pedro, Pedro Anes, a D. Honório Mendes, comendador de Coruche. Sete anos mais tarde, em 1229, este comendador adquire, nesta mesma freguesia, uma casa a Maria Bona. Em 1248 a igreja é novamente referida em carta régia, datada de 5 de novembro, aquando da doação do padroado das três igrejas da vila por D. Afonso III a Martim Fernandes, então Mestre da Ordem de Avis. No entanto, apesar da sua génese medieval, à qual se associa o sino de 1287, o mais antigo exemplar de fundição sineira até agora identificado em território português e exumado no interior de uma cripta-ossário, a construção atual regista grandes modificações. A última, seiscentista, pode estar associada ao período subsequente ao terramoto de 1531, fortemente sentido na região e com consequências muito ruinosas.
O seu interior, integralmente revestido com azulejos de padrão do século XVII, apresenta um belíssimo frontal de altar que recria o Jardim do Paraíso, tendo ao centro, num medalhão, a imagem de São Pedro. O retábulo, em talha dourada e policromada, é um bom exemplo da mestria dos artífices de seiscentos.
O campanário oitocentista, fronteiro à igreja, foi construído para acolher a retirada dos sinos da torre da igreja da praça, demolida em 1857, último testemunho da antiga matriz medieval. Mas, com a construção da nova igreja matriz de São João Batista, os três sinos são transferidos para uma das torres sineiras, onde tocam desde 1958.
[Aceda aqui às fontes consultadas Texto: CC/2022-05-12]
Igreja de Santo António
A igreja de Santo António, edificada no limite oeste da malha urbana antiga, é um templo de uma só nave, com orientação Norte-Sul, e fachada principal sobre o largo do mesmo nome, onde tem início a Rua Direita.
A sua implantação deve corresponder à da igreja de São Miguel, documentada a partir de 1222 e cujo orago perdurou até ao século XVII. Desconhece-se, no entanto, a data da sua construção. Em 1248 D. Afonso III doa o padroado da mesma, bem como o das igrejas de São João Batista e de São Pedro, ao Mestre de Avis.
O seu interior apresenta revestimento azulejar do século XVII e nele se destaca a imagem de Santo António com o Menino ao colo. Tem púlpito, arco de cruzeiro simples e a cobertura da capela-mor é em abóbada.
No ano de 2012 o seu interior foi alvo de trabalhos de conservação e restauro e em 2018 o adro da igreja teve uma intervenção arqueológica de salvaguarda, realizada no contexto das obras de requalificação do Centro Histórico da vila de Coruche. Foram, então, identificadas estruturas relacionadas com a fase de construção da Igreja de Santo António (século XVI-XVII) e outras que corresponderão a fase(s) subsequente(s) relacionadas com a construção do atual campanário, da escadaria de acesso ao templo e duas estruturas tipo muro. Foram igualmente detetados alguns enterramentos em conexão anatómica, mas bastante perturbados e associados a contextos com materiais arqueológicos entre os séculos XVI e XVII.
[Aceda aqui às fontes consultadas Texto: CC/2022-04-21]
Ponte da Coroa
A Ponte da Coroa, assim chamada por ter sido mantida pelas receitas da coroa, tem no seu padrão, sob a coroa e o escudo, uma inscrição em latim com a data de 1828. Trata-se de uma obra de utilidade pública, que corresponde a uma (re)construção do tempo de D. Miguel.
Inteiramente construída em tijolo rebocado, possui três arcos, sendo o central sobreelevado e acompanhado pelo tabuleiro. Apresenta talhamares de ambos os lados, agudos a jusante e arredondados a montante. É sobre o arco central, do lado montante, que se encontra o padrão. Classificada como Imóvel de Interesse Municipal (IM), é testemunho da passagem de um antigo caminho que servia a travessia do vale do Sorraia e do qual ainda subsiste uma outra ponte, para quem segue na direção da vila. Cerca de 600m para sudeste, mantém-se o enigmático e lendário Pego das Armas.
Aquando da construção da ponte metálica, que lhe fica a montante e lhe é paralela, foram-lhe retiradas a coroa, o respetivo escudo real e a inscrição comemorativa, elementos que foram colocados no pilar da ponte nova. Aqui permaneceram entre 1930 e o final da década de 90, altura em que a Ponte da Coroa é alvo de uma obra de requalificação e os mesmos lhe são devolvidos.
[Aceda aqui às fontes consultadas Texto CC, 2022-04-18]
Pelourinho de Coruche
Símbolo do poder e da autonomia municipal, o pelourinho manuelino de Coruche, outrora implantado do lado poente da atual Praça da Liberdade [cf. Mapa Topográfico da vila de Coruche, de 1789 e cf. foto publicada por Pereira, em 1995], foi desmontado em data anterior ao regicídio de 01 de fevereiro de 1908, onde perderam a vida o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro Luís Filipe. Por tal, a “Planta da vila de Coruche - Levantada em julho de 1908, escala 1:500” [cf. extrato] já não o representa. No seu local foi construído um chafariz e, após o desaterro do sítio, construíram-se alguns degraus para quebrar o desnível de acesso à Praça do Comércio, atual Praça da Liberdade.
Assumindo uma implantação diferente, o pelourinho atual é da década de 40 do século XX. Trata-se de uma obra típica do revivalismo gótico-manuelino, cuja construção tem por base fragmentos do original.
Assenta num soco escalonado de 5 degraus. A base hexagonal, composta de plinto duplo, escócia e bocelão facetado, foi realizada segundo desenho do pintor-arquiteto Alberto de Sousa. O fuste torso espiralado, de rosetas retangulares, é interrompido ao centro por anel ornado de dentes de serra, bolas e bilhetas. O capitel é decorado nas suas quatro faces, nele figurando a esfera armilar, a cruz de Avis, quinas e armas da vila. É rematado por pináculo espiralado coroado por bola de ferro sustentando uma cruz de Calatrava, também em ferro. Os ganchos de sujeição terminam em cabeça de serpente.
Ergue-se no Largo do Pelourinho, sobranceiro à Praça da Liberdade, no mesmo local onde, no final do século XIX, foi edificado o açougue municipal.
[Aceda aqui às fontes consultadas Texto: CC/2022-02-18]
A fonte de 1884
A Fonte da Praça, implantada nos finais do século XIX defronte do edifício do açougue municipal da vila de Coruche, é, muito provavelmente, a mesma que as fotografias da década de 50 registam no Bairro Alegre e que “O Sorraia", em 1968, localiza já muito perto do sítio atual, no Largo do Rossio. Nela se lê: “A / CÂMARA MUNICIPAL / CONSTRUIU / EM / 1884”.
Pelo que, recuando ao ano de 1884 e às fotografias disponíveis, é suposto pensar que esta fonte, a Fonte da Praça, inicialmente encimada por uma taça e provida de coroa real, foi submetida a algumas mudanças, não só de localização, decorrente da gestão urbanística e do abastecimento de água à população, mas também de alterações e adaptações decorrentes do devir político. Primeiro, em 1910, com a Implantação da República e depois com o regime do Estado Novo.
Para a década de 1950, vemo-la registada no Bairro Alegre, já sem a taça que a encimara, substituída pela esfera armilar, e sem a coroa real, cuja existência deixou marcas imediatamente acima do brasão da vila, onde consta a sigla C.M.A.R. [Comissão Municipal Administrativa da República (?)].
[Aceda aqui às fontes consultadas/ Texto CC_2022/05/19]
Atualizado em 08-08-2022